quinta-feira, 5 de maio de 2011

O verdadeiro significado de "La Bestia Negra" na América Latina

Gostaria que os seguidores de meu blog entendessem este post não como uma provocação, mas como uma explicação a deturpações realizadas pela imprensa azul e pelos blogueiros da Enseada das Garças.

Há cerca de cinco anos proliferou no espectro futebolístico mineiro uma meia verdade, um sofisma, uma mentira daquelas que de tão repetidas se firmam como espécie de verdade sobre as qual ninguém sabe a origem. Uma falácia anônima alimentada pelo marketing e pela paixão futebolística.

Uma delas é a suposta fama de “La Bestia Negra” creditada ao Cruzeiro em seus confrontos internacionais, supostamente devida a campanhas que causariam medo aos adversários. Tal expressão leva o incauto leitor brasileiro a concluir que a fama do Cruzeiro é de uma poderosa máquina de guerra, tal qual uma "fera negra".

Entretanto, o significado da expressão “La Bestia Negra” na Espanha e nos países hispânicos da América Latina, na exata acepção em que foi usada, em nada tem a ver com o que pretende a torcida celeste. De fato, tal apelido foi dado ao Cruzeiro pela imprensa chilena devido às sucessivas derrotas do Colo-Colo  para a equipe mineira. No Paraguai, adotou-se a mesma expressão na imprensa especializada devido a dificuldade do Olimpia em superá-lo nas fases de mata-mata. “La Bestia Negra”, no entanto, não quer dizer nenhum ser mitológico e poderoso em especial, mas apenas a “asa negra”, ou seja, uma equipe contra a qual o adversário dá azar. O sentido de “La Bestia Negra”, portanto, refere-se a “pedra no caminho” e não a time de futebol temido. 

Apenas a título de exemplo, recentemente a imprensa paulista se referiu a Ponte Preta (essa mesmo, a modesta Macaca de Campinas) como a “asa negra do Santos” no campeonato paulista, ou seja, a nada mais nada menos que um time chato que dá trabalho nos confrontos diretos. Da mesma forma, a imprensa colombiana chama o pequeno Equidad de “la bestia negra” do Once Caldas pelos seguidos revezes sofridos pela equipe de Manizales diante dos bogotanos. Alguém em sã consciência interpreta que o Santos tem medo da Ponte Preta ou que o Once Caldas treme diante do Equidad? Claro que não! 

Recentemente a imprensa européia divulgou que o Bayern de Munique seria "La Bestia Negra" do Real Madrid. Ora, quem conhece o espírito dos merengues sabe que eles não temem nem o Barcelona, que os tem superado na última década, nem qualquer outra equipe européia. Como os alemães os têm derrotado seguidamente nas competições européias, construiu-se a fama de pedra no caminho. 

Para não ficar só no futebol, alguém acredita que a dinamarquesa Wosniacki é a "bestia negra" da russa SharapovaA imprensa brasileira é que tem a equivocada mania de confundir "bestia negra" com algo amedrontador e, com tal erro de tradução, reproduz as matérias copiadas da imprensa estrangeira.

Sobre o confronto com a La U chilena pela 1ª fase da Libertadores de 2014, a imprensa criola exaltou os resultados do Cruzeiro contra times daquele país, adotando o termo "bestia negra", mas sem se referir em qualquer momento a temor ou medo. Além do Cruzeiro, a matéria do jornal "El Mercúrio", que foi insistentemente replicada pela imprensa mineira, aponta o Santos como "bestia negra".





Se temos outra "bestia negra", por óbvio, não poderíamos dizer que o Cruzeiro é "La" bestia, mas apenas "una". Por que será que a torcida santista não sai bradando por aí que seu time é temido por ser conhecido no exterior como "bestia negra"? Será que é porque têm senso do ridículo?

A expressão em castelhano "bestia negra", portanto, significa "asa negra", "pedra no caminho", algo ligado ao revés, ao azar. A palavra "bestia" até pode significar "monstro", mas naquela expressão, unida ao "negra", não preserva o significado. É como em português: "besta" pode até ser sinônimo de "fera" ou "monstro", mas a expressão "besta quadrada" só pode significar "idiota".

Imaginem, então, o que parece aos olhos das torcidas adversárias a faixa "la bestia negra" que a torcida cruzeirense leva aos jogos internacionais? É algo como se a torcida do Boca Juniors estendesse no Mineirão uma faixa escrito "Boca - A pedra no caminho". Algo amedrontador?

Na Libertadores 2011 comprovou-se mais uma vez que  “La Bestia Negra” brasileira nada tem de especial. Ao contrário de meter medo no Once Caldas, a equipe celeste da Enseada das Garças foi engolida em casa, demonstrando que não basta marketing bem feito junto à torcida para se voltar a conquistar os tão almejados títulos.

P.S.: Em 18/09/2013 acrescentei alguns trechos e suprimi outros ao original publicado em 05/05/2011, inspirado nas diversas mensagens que recebi de atleticanos e cruzeirenses. Até julho de 2013, o post tinha acesso médio de 100 pessoas por mês. A simples ida do Galo a final da Libertadores aumentou o acesso a média de 2000 por mês.